sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

A Cultura da Mídia, de Douglas Kellner













É sempre interessante ler. O estudo de Douglas Kellner sobre a Cultura da Mídia (livro emprestado pelo meu amigo e colega Artur Lopes Filho) é uma aula sobre a relação entre artefatos culturais da indústria cultural e recepção por parte do público. Em primeiro lugar, porque Kellner sai da dicotomia bastante limitante de cultura erudita e popular, alta e baixa cultura, cultura de elite e cultura de massa, apresentando todas as variações existentes como cultura da mídia, visto que a indústria e os mass média se apropriam da maior parte das produções. Em segundo lugar porque ele demonstra com fatos e dados quantitativos (e não opiniões soltas no ar, como acontece nas redes sociais) como se dá a relação entre filmes, programas de TV, séries, quadrinhos, literatura e os comportamentos coletivos do público consumidor, como a mídia interfere nas ideias, valores, representações, ideologias e imaginários. Seguindo os estudos culturais britânicos e sua crítica a Escola de Frankfurt, que concebia a indústria cultural como um construto de pura dominação e manipulação das massas (o que era lógico visto que a Escola de Frankfurt observou a ascensão do nazismo e sua máquina de propaganda), Kellner sustenta que existe uma ambivalência intrínseca nos artefatos culturais produzidos e difundidos, operando conflitos de representações da sociedade atual. Ainda assim, ele não nega a força da mídia em orientar comportamentos e valores, tais como os filmes de guerra e retorno ao Vietnã dos anos 80 e a gradual mudança de orientação quanto ao inimigo a ser combatido, dos soviéticos para os árabes. Na chamada Era Reagan, quando a política dos EUA se voltava cada vez mais para o Oriente Médio e aos poucos arrefecia os ânimos com os soviéticos, Kellner prova, mediante pesquisas de opinião da época, que o povo americano começou a ver os árabes como a ameaça em potencial ao chamado modo de vida americano e isso após a difusão de filmes que mudavam o inimigo, do soviético robotizado e perverso (como em Rambo II e III) para o árabe terrorista fanático sem pátria, o árabe genérico (Top Gun, Comando Delta, Águia de Aço). Um filme, uma única obra, uma única propaganda não seria suficiente para orientar comportamentos, mas um conjunto de artefatos difundidos constantemente em um dado contexto pode levar sim a mudanças comportamentais, introjetando idéias e valores específicos, sejam sexistas, racistas, homofóbicos, conservadores, liberais, de esquerda, de direita, etc. Ele chega a essa conclusão e prova os efeitos da mídia com diversos dados quantitativos dos anos 80 e anos 90 (0 chamado efeito Rambo é impressionante), efeitos que as vezes surpreendem, visto que o púbico, em alguns momentos introjeta valores contrários a aqueles que deveriam ser introjetados.

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